Pequenos Pecados

Palavras, actos, fotos e omissões

19 julho, 2009

A ode do bandido

Na primeira leitura em diagonal não dei grande importância ao artigo publicado no Expresso com o título " O D'Artagnan da Revolução" - artigo sobre a morte de Palma Inácio.
Um passar de olhos inicial pelas "gordas" (uma espécie de preliminar sexual que gosto de ter na leitura do Expresso) não afigurava nada de especial em termos de matéria.
Porém, uma leitura atenta à noite, já no conforto doméstico, provoca-me um desconfortozinho nos fígados e vontade de esbofetear o primeiro canhoto apoiante do bicho se assombre à esquina da rua!
Mas o que é isto?!?
Como é que em pleno 2009 democrático e europeu se vangloriam em página inteira de jornal as façanhas de um terroristazinho (mais uma para o meu dicionário pessoal!), que entre outras maluqueiras, foi o líder da "Operação Vagô", que desviou um avião da TAP para lançar panfletos de propaganda política sobre Lisboa, e da "Operação Mondego" - um assalto à agência do Banco de Portugal da Figueira da Foz que rendeu 30 mil contos?
Mas está tudo parvo ou quê? O gajo era um bandido!
Parece que afinal, a pouca vergonha que havia na nossa sociedade... agora é nenhuma!
Pisquei os olhos 3 vezes, levantei-me, fumei dois cigarros e voltei a ler... "Fodasse! É mesmo um texto a vangloriar o bicho!".
E como se não bastasse - pimba! - um textinho de opinião do João Soares, amiguinho do bandido, cheio de linhas de tristeza porque o dito cujo não teve direito a uma pensão do Estado Português. Oh!! Porque terá sido?!
Nesse tal texto de opinião podem-se ler pérolas como esta: " O Palma era um homem bom. Um homem de honra, e também um homem honrado. Assaltou bancos, desviou aviões (que eu saiba foi nessa matéria um percursor mundial), empunhou armas (mas nunca fez mal a uma mosca), fugiu de prisões."
Ou seja, assaltar bancos e desviar aviões é motivo de honra! O artolas andava armado mas era só para condizer com a roupa, porque nunca fez mal a uma mosca! Só falta dizer que a fusca era de plástico!
Depois de ler isto, aguardo com expectativa o texto do João Soares em defesa dos irmãos Cavaco, do extripador de Lisboa, do Manuel Subtil e do Wellington Nazaré - todos eles, homens honrados de acordo com a filosofia soarista/terrorista.
Claro que há os ignóbeis canhotos que defenderão até a morte bandidos como este e outros iguais ou piores (como o bombista/terrorista Otelo Saraiva de Carvalho), resguardando-se sempre atrás do "legítimo" combate ao regime, validando o "vale-tudo-bandido" desde que esteja de acordo com a razão deles.
A seriedade política mede-se não só pelas acções tomadas mas também pelas causas defendidas. E quem defende um bandido, só pode ser também um bandido.
Em qualquer lado civilizado do mundo, o apoio a terroristas, bandidos ou assaltantes de meia tijela (mesmo pós-mortem) é inaceitável... em Portugal, dão-se-lhes páginas de jornal em jeito de glorificação com comentários e opiniões de outros iguais a eles!
Aos meus turtis, peço-lhes: Quando eu quinar, escrevam nos jornais sobre os meus feitos heróicos contra este regime. Se o Sócrates ganhar as próximas eleições, prometo que antes de morrer assalto um banquito cá na terra, meto umas bombas em qualquer lado e se conseguir ainda desvio uma avionetazita e largo uns panfletos sobre Beja, com propaganda sobre a próxima tour tertuliana! Se não conseguir nada disso, ao menos falem dos finos que eu bebia!
Se assim for, depois de eu morrer haverá quem diga que eu era um bandido, mas aos olhos do João Soares, eu serei um homem honrado!

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